Jéssica nos aconteceu numa noite de sábado, quando eu e mais duas amigas voltávamos de uma festa. Encontramos ela, apanhando e batendo no que parecia ser seu companheiro. Com gritos chamava o nome dele, que parecia estar alterado. Ainda dentro do carro demos a volta em duas quadras mais próximas a procura de um policial, nada encontramos. Portanto fomos fazer justiça com nossas mãos, mesmo que com MUITO medo, pois por mais que quiséssemos ajudar, percebíamos que ela batia e apanhava ao mesmo tempo. Por fim, paramos o carro, desligamos o farol e esperamos pra ver se eles paravam de brigar. Até então, não sabíamos seu nome.. Eles estavam agora só discutindo. E depois ele começou a fazer o que no feminismo chamamos de “gaslighting“ que é uma espécie de abuso psicológico. Ele começou a gritar com ela “Você não confia em mim?” “Eu não estou drogado, eu não bebi Jéssica” e foi aí que ouvimos por fim seu nome.. Eles começaram a discutir, ele voltou a bater nela. Nós intervimos, ainda que muito covardemente, acelerei o carro em direção de Jéssica e gritei “Jéssica entra, sua mãe pediu pra que eu te buscasse”, ela se recusou. Eu disse, “Vamos, pode vir, só tem meninas no carro, a gente leva você na casa da sua mãe.. É sério, pode vir. A gente te deixa em qualquer lugar, você está segura com a gente” E ela se recusou de novo, já bem chorosa e com a mão sangrando. E então ela disse que morava com o homem, e que tinha que levar ele pra casa. Eu gritei, tirando de mim todo medo que aquele cara tivesse uma arma ou que avançasse em nós três. “JÉSSICA VOCÊ MERECE MAIS QUE ISSO, SAI DISSO, VOCÊ É MELHOR QUE ESSE RELACIONAMENTO, VOCÊ MERECE COISA MELHOR.” Ela chorou muito nesse momento, e o cara avançou pra perto dela e começou falar, “o que ela disse, que você merece mais???” e eu com toda minha covardia, mesmo sentindo que tinha feito algo, percebi o tal do abuso psicológico de novo vir sobre aquela moça.
Eu provavelmente nunca mais vou te encontrar, mas as meninas disseram que não poderíamos fazer mais que aquilo, e que pela forma que você chorou quando disse que você valia mais que esse relacionamento abusivo, aquela noite espero que uma sementinha, ainda que bem pequena do feminismo, tenha sido brotada no seu coração.
Sororidade ainda que aos poucos, vamos praticar?!